A não utilização de computadores e a não apropriação de novas tecnologias provoca dificuldades em alunos de educação de jovens e adultos que passam a ver esse instrumento como algo inacessível.
Melina Melo Rodrigues
Resumo
Este artigo tem por objetivo apresentar a pesquisa feita em turmas de educação de jovens e adultos sobre a frequência da utilização de novas tecnologias em sala de aula e as dificuldades encontradas por esses estudantes que, geralmente, não dispõe de tais aparelhos em casa ou que ainda não se apropriaram dos mesmos. Fica clara a importância do professor cuja principal função, nesse caso, é desarraigar a ideia de que o computador é algo de difícil acesso e de promover a autonomia digital dos alunos. Para que isso ocorra, o profissional deve estar ciente das especificidades desse público e entender que as estratégias devem ser diferentes das utilizadas no ensino regular.
Palavras-chave: Educação de jovens e adultos, novas tecnologias, estratégias diferencias, professor.

Escopo Teórico
Nas últimas décadas, inúmeros avanços se deram, principalmente, na área da tecnologia, como a modernização e difusão dos computadores e a criação de novos aparelhos audiovisuais. Essas novas tecnologias têm adentrado as escolas como instrumentos pedagógicos. Os professores fazem uso de computadores, de internet, de datashow e de games como forma de facilitar o aprendizado e de estimular o aluno a estudar, uma vez que esses recursos já fazem parte do cotidiano dos estudantes, principalmente dos momentos de lazer. Segundo Viviane Curto (2009, p. 2) “a utilização do computador em sala de aula configura-se como um recurso valioso para o tratamento da diversidade constitutiva da realidade em que vivemos e para o trabalho com vários letramentos de forma crítica e ativa.” Assim, estudar torna-se mais fácil e prazeroso. Entretanto, essa reação difere da de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) que, pelo menos a princípio, veem a utilização desses recursos como algo amedrontador.
Infelizmente, no Brasil, é grande a desigualdade social, o que obriga a muitos jovens abandonarem seus estudos para se inserirem no mercado de trabalho, pois, assim, poderão contribuir na despesa familiar. Porém, a exigência de trabalhadores com estudo e com cursos que aprimorem suas atividades faz-se presente nas empresas. Então, o cidadão que deseja ascender profissionalmente utiliza o horário noturno para voltar à escola. Ao chegar nesse ambiente, ele percebe que a didática dos professores e os recursos por eles utilizados mudaram. Deparando-se com novas tecnologias, ele se assusta e sente grande dificuldade de adaptação. Essa é a realidade da maioria dos alunos de EJA. O que se supõe é que esse temor é oriundo de uma não utilização desses recursos, apesar de estarem presentes em todos os contextos em que esses sujeitos estão inseridos, como o trabalho e o ambiente familiar.
O professor, que não esteja preparado para trabalhar com esse segmento, costuma manter as mesmas estratégias utilizadas no ensino regular, olvidando que seu novo público é diferenciado, tanto pelos anos que estiveram afastados da escola, quanto pelas experiências angariadas nesse período extraclasse. Assim como afirma Álvaro Pinto (2000, p.29), “o compromisso da escola é, sobretudo, o de assegurar a seus estudantes os instrumentos necessários para a participação ativa e cidadã no contexto em que estão inseridos”. Dessa forma, cabe ao professor de jovens e adultos ajudá-los a vencer o receio perante as tecnologias e incentivá-los a se apropriarem desses recursos que estão presentes em todos os contextos. Vanilda Galvão Bovo considera
o educador de Jovens e Adultos a mola propulsora para que esse aluno construa o conhecimento de modo a ser capaz de fazer leitura do mundo com autonomia. (…) Criar novos métodos, novas estratégias para prestar ajuda eficaz a seus alunos no processo de aprendizagem é também uma responsabilidade do professor. (BOVO, 2002, p. 109)
Agindo assim, as aulas, nas quais serão utilizadas o computador, serão um sucesso e alcançarão os objetivos.
Metodologia
Visando observar a dificuldade que alunos de EJA apresentam diante do computar e analisar as estratégias pedagógicas utilizadas pelos professores nesse sentido, foi feita uma pesquisa numa escola de Belo Horizonte que atende a esse tipo de público. A instituição recebe alunos para cursar o segundo segmento do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano). Ali os alunos completam seus estudos em três anos.
A pesquisa foi realizada em duas turmas iniciantes, ou seja, de alunos que estão, nesse momento, retomando os estudos após muito tempo afastados da escola. A turma A é composta por 10 alunos com idade entre 20 e 40 anos. A turma B possui 20 alunos com idades entre 30 e 60 anos.
A escola não possui um horário específico para aulas de informática, mas todos os professores, ao menos uma vez por mês, levam os alunos ao laboratório de informática. As observações foram feitas em dois períodos: no primeiro e no sexto mês de aula.
Como método de pesquisa, além da observação das aulas (principalmente de português) foi feita entrevista com os alunos sobre a freqüência da utilização dessas tecnologias (principalmente o computador) em suas vidas.
Dos 30 alunos pesquisados, 15 alegaram ter a máquina em casa, mas apenas 7 afirmaram fazer uso desta. Alguns citaram o contato com a mesma no trabalho.
Foi observado, no primeiro mês que os alunos que relataram não ter a máquina em casa ficaram constrangidos diante dela na sala de aula; não souberam ligá-la e preferiram, em alguns casos, sentar em dupla com um colega que apresentassem mais facilidade.
A primeira aula no laboratório tinha por objetivo pesquisar no Google a vida de certo escritor. A professora pediu aos alunos que coletassem dados importantes sobre ele nos sites, mas diante da dificuldade que muitos apresentaram, ela decidiu, mas próximas aulas, não dar continuidade a esse trabalho, mas sim apresentar as ferramentas mais utilizadas par aos alunos.
No segundo momento de observação, a constatação foi diferente do primeiro. Os alunos já apresentaram mais intimidade com a nova tecnologia. A coordenação motora de alguns, ao manusear o mouse, havia melhorados. Dos 15 alunos que disseram, anteriormente, possuir computador em casa, todos, agora, fazem uso deste, seja para olhar email, seja para fazer pesquisas.
A professora relata que a apresentação da máquina e de suas ferramentas aos alunos possibilitou a diminuição do medo por parte dos alunos e as atividades começaram a alcançar seus objetivos. “É claro que alguns ainda têm receio e preferem sentar em dupla, mas percebi um grande progresso na maioria”, afirma a educadora. Dos outros 15 que não tinham computador em casa, 2 já o compraram e os demais disseram que estão organizando as finanças para comprá-lo, pelo menos, até o final do ano.
Análise
De acordo com os dados coletados na escola, é possível observar que, realmente, a dificuldade de alunos de EJA em se apropriarem das novas tecnologias, é oriunda do desconhecimento e da falta desses instrumentos e de seu uso em casa. Quando, no ambiente escolar, tomaram conhecimento da forma como utilizar o computador, que esse, por exemplo, não estragaria facilmente só porque determinada tecla foi apertada “sem querer”, os estudantes passaram a usar mais facilmente essa ferramenta.
Os professores, nessa situação, tiveram papel importantíssimo, pois foram os responsáveis pela quebra do mito embutido nesses alunos de que computador é um “bicho de sete cabeças”. O uso constante atentou os estudantes à importância desse recurso, não só no ambiente escolar, mas também em suas vidas.
Considerações Finais
A pesquisa feita corrobora as afirmações acerca da necessidade em se utilizar novas tecnologias em sala de aula.
Ela também atenta os profissionais da educação à importância de se reelaborar as estratégias e adequá-las ao público da EJA.
Ficou claro que só através do uso e do incentivo dos professores quanto a utilização dos computadores os alunos da educação de jovens e adultos se apropriarão desses recursos e seu domínio acarretará, de certa forma, uma ascensão social.
Referências Bibliográficas
CURTO, Viviane. Trabalhando com o computador na EJA: uma análise dos relatos das práticas pedagógicas em meio digital com jovens e adultos. Disponível em: <www.ufpe.br/nehte/…/anais/p…/trabalhando-com-o-computador-na-eja.pdf>. Data de acesso: 17/10/2010
BOVO, Vanilda Galvão. O uso de computador em educação de jovens e adultos. Disponível em: <www.bomjesus.br/publicacoes/pdf/revista…/o_uso_do_computador_na.pdf>. Data de acesso: 31/10/2010
PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre educação de adultos. 11 ed. São Paulo: Cortez, 2000.
CREDITOS: http://textolivre.pro.br/blog/?p=130
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